Marx e o enigma de Spinoza

Resumo

Que Marx foi um atento leitor do Spinoza político não existe dúvida. A assimilação mais profunda se efetuou entre 1841 e 1842, em sua fase “democrática”, momento que antecede a transcedente Kritik na filosofia política de Hegel e a superação do Liberalismo republicano de Bauer e Ruge. Marx, seguindo o próprio método hegeliano, refuta o spinozismo político simplesmente considerando o mesmo, não tanto um ponto de vista absolutamente falso, mas como não constituindo o Standpunkt, mais elevado do Liberalismo, que é o de Hegel. Refutando o verdadeiro sistema, Marx considera Spinoza como conteúdo e como momento subordinado da filosofia política hegeliana in toto. O “nervo da refutação” a Spinoza, o ataque em suas próprias trincheiras, se efetua em realidade por um tiro de elevação no seio de Hegel político. A verdadeira Kritik ao spinozismo se encontra em reconhecer seu ponto de vista como essencial e necessário no desenvolvimento do Liberalismo, que se encontra embebido num nível mais alto e concreto, tanto filosófico como político, com é a própria Grundlinien hegeliana. Spinoza pode ser entendido em sua totalidade, em suas limitações e pontos cegos, a través do processo de mediação do paricídio hegeliano de Marx.